sábado, 23 de maio de 2009

Afinidade




Achei esse pensamento "jogado" no orkut de alguém, sem referência a autor, época ou nada. Simplesmente jogado, como se afinidade fosse assim algo que se encontra na lata do lixo.

Como não me pareceu filosofia barata de botequim, mas a expressão de um sentimento vívido e que se fez real na vida desse alguém, vou postá-lo aqui... Talvez seja a melhor definição que encontrei de AFINIDADE:


"A afinidade não é o mais brilhante, porém é o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. É o mais independente. Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades, quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa e o afeto no exato ponto em que foi interrompido.

Afinidade é não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial. Ter afinidade é muito raro, mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar."

Eita sentimento difícil de se encontrar... Se não é mais raro que o amor verdadeiro, está quase lá... Os dois sentimentos disputando o prêmio da raridade.... Encontrar os dois juntos, simultaneamente, na mesma pessoa, então, nem se fale... Deve ser o clímax da vida!


São todas conjecturas... Difícil é falar do que se viveu mal vivido....

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Felicidade demais faz mal. Será?


Achei num blog a reprodução de uma notícia interessante e de uma possível explicação para minha letargia mental: é porque eu sou feliz demais!!!! Nossa, vocês nem imaginam o tanto! Vou postar aqui e vocês que tirem suas próprias conclusões....


"A revelação foi feita pelo doutor Edward Diener (o doutor Felicidade) que reviu recentemente sua tese sobre os efeitos da felicidade: “Ser feliz demais não é bom. O contentamento em excesso torna as pessoas menos capazes, menos saudáveis e menos atentas aos riscos”. Segundo o psicólogo, uma margem de insatisfação evita a letargia.

A indústria da felicidade cobra que sejamos felizes o tempo todo e isso acaba levando a um fenômeno comum hoje que é o consumo excessivo de antidepressivos, conforme revela a matéria O valor da tristeza, da Revista Época dessa semana.

O consumo de antidepressivos no Brasil saltou de 20,6 mi em 2005 para 24,4 mi em 2007. Apesar de serem um avanço extraordinário, a prescrição de antidepressivos requer uma avaliação longa e precisa e muitos diagnósticos estão cada vez mais superficiais, revela o psiquiatra Renato Del Sant, Diretor doHospital Dia, o Instituto de Psiquiatria do hospital das Clínicas de São Paulo.

Muitas pessoas querem que você seja mais e mais feliz. Cedo ou tarde atentamos para o fato de que a felicidade completa é irrealizável. E completa o escritor italiano Primo Levy, sobrevivente do holocausto: “Poucos atentam para a reflexão oposta: que a infelicidade completa também é irrealizável”. Outro ponto importante, só conseguimos a percepção de um sentimento em comparação com os outros estados de ânimo.

A importância dos obstáculos já foi defendida também por Nietzsche: O que não me mata me torna mais forte”. Muitas vezes ao passar por um trauma ou uma infelicidade, as pessoas passam a valorizar o que realmente importa. Há quem defenda que as fases de depressão levam a questionamentos que despertam a criatividade. A matéria ainda destaca nomes de personalidades que passaram pela fase depressiva: Ludwig Van Beethoven, Friedrich Nietzsche, Vincent Van Gogh, Edvard Munch, Alberto Santos Dumont, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Elis Regina, Janis Joplin, Wood Allen.

Particularmente acredito muito no pensamento positivo, mas também admito que o descontentamento com algo pode ser uma forma muito eficaz de se lutar para melhorar. Uma espécie de incentivo à mudança e aos novos desafios. Cabe a cada um de nós saber identificar essas oportunidades.

Cuidado para não se tornar refém da felicidade, da mesma forma como hoje as pessoas se tornaram reféns dos padrões de beleza. Todos nós deveríamos fazer terapia em algum momento da vida para tentar nos conhecermos melhor".



Extraído de espartilho.wordpress.com

Letargia mental





Hoje é mais um dia daqueles em que o vazio mental impera. Levantei fraca, "esmilinguida" e desanimada da vida. Não há assunto, texto, recado ou conversa que faça minha mente funcionar e se focar...

Faço votos de felicidade por email, recebo outros emails, deixo recados no orkut... Mas nenhum contato assim tão importante. Não são os emails que eu gostaria de receber.... Não são as pessoas com quem eu gostaria de me conectar...

E assim a net vai consumindo minha energia vital. O cabo de conexão não se conecta à tomada física; a tomada, o canal de energia sou eu.... Essa é a explicação mais surreal que consigo encontrar para o meu vazio....

Que estado mental de merda é esse?
Não há alegria, não há tristeza;
Não há amor, nem desamor;
Não há produtividade, nem improdutividade (embora o que eu deveria realmente fazer, não seja feito);
Não há calmaria, nem ventania.;
Não há satisfação, nem insatisfação;
Não há completude, nem falta de algo;
Há o vácuo da mente, a "leseira" do corpo e a indiferença do coração;
Há apenas a vida, em slow motion, demorando a passar... Como uma máquina funcionando na sua mínima potência.... (Aperta o play, porra!)...
Há simplesmente o SER e com ele, todo o peso morto da minha existência....

Valeu, Dr. Blog!



quarta-feira, 20 de maio de 2009

O que será que será



Vamos lá... Mais uma sessão terapêutica comigo mesma.... As dificuldades são duas:

- Saber o que estou sentindo e

- Traduzir em palavras....



Ótimo. Ou seja, uma tarefa quase impossível essa.... Nessas horas eu sempre recorro a alguma referência.... Uma referência literária, em especial poética... Quem sabe alguém não viveu o que vivo nesse momento?



"Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve, para que venhas comigo e eu para sempre te leve...- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída das montanhas dos instantes desmancha todos os mares e une as terras mais distantes...- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes, entre os ventos taciturnos, apago meus pensamentos, ponho vestidos noturnos,- que amargamente inventei. E, enquanto não me descobres, os mundos vão navegando nos ares certos do tempo, até não se sabe quando...e um dia me acabarei."


Timidez - Cecília Meireles



Pois é... Me sinto um pouco assim. Como se tudo dependesse de uma palavra, um SIM.... E de um gesto, um pequeno gesto de minha parte. Palavra que não digo e gesto que não faço, apesar de ter a consciência de que poderiam muito em seus efeitos.


Mas a questão que se coloca não é "E AGORA, JOSÉ?", mas "POR QUE, JOSÉ? Posso dizer que por timidez, como Cecília, não é... Poderia ainda fazer um milhão de conjecturas, mas tem algo que resume tudo: MEDO.


O medo me paralisa, me põe em suspenso, quando não me derruba... O bichinho sabe direitinho como me ferrar....


Medo de ir, medo de ficar...


Medo de ir e não dar certo... Medo de ficar e não dar certo...


Medo de retroceder ainda mais....


Medo de ficar longe das pessoas que gosto...


Medo de me sentir só....


Medo do que foi o passado, Medo do presente e Medo do que será no futuro...


É muito M.... Não é à toa que Medo tem a mesma inicial e o mesmo cheiro que Merda....



Quando a gente cresce, infelizmente se desfazem as ilusões fantásticas.... Infelizmente você acaba constatando que o amor não é tudo em qualquer relação... Ainda mais quando o amor habita um ser picasseano como eu ....


Como já pude perceber, o amor humano é diferente do amor divino... E nós, humanos, vivemos sob condições, sob limitações, sob a nossa humanidade, oras... E a minha atual metade picasseana de humanidade é de medo.


Ainda podem vir com um papinho daqueles que se escuta por aí, de que é melhor se arrepender do que se fez do que daquilo se fez... E mais uma vez, eu ouso discordar!


Pergunte a alguém arrependido de alguma ação se ele não gostaria de voltar atrás e apagá-la?


Depois de muitas atitudes supostamente fundadas em amor, carinho, paixão e planos, vêm quedas e desilusões que demoram uma vida inteira para serem superadas... Tanto que não valem o preço do risco ou do prazer temporário...


Da experiência, ficam apenas as lições e os ensinamentos... Mas, se é assim, prefiro aprender de outro jeito? Quem sabe à distância??!


E, Chico, o que [i]"Será, que será? O que não tem certeza, nem nunca terá! O que não tem concerto, nem nunca terá! O que não tem tamanho..."[/i]







domingo, 17 de maio de 2009

As várias versões de "quando nasci veio um anjo"


Dia desses postei algo muito bonito sobre Deus e sobre seu incondicional amor.... Algo Divino.... Mas, hj vou postar algo PROFANO. Esse blog não tem compromisso com essa ou aquela linha. Ele segue as tramas do meu coração e do meu humor simplesmente.

Chega de blá-blá-blá. Vamos reunir aqui as várias versões de "quando nasci veio um anjo...". Pois, é... Cada dia me identifico com uma espécie de anjo que me visitou na época do meu nascimento. Isso não acontece com vc?

Ontem mesmo havia postado no orkut esse lindos versos da minha amada Adélia Prado, sobre a sina da MULHER..Porque toda mulher é guerreira. Toda Mulher é desdobrável.

"Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: "Vai carregar bandeira". Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos- dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree... Já a minha vontade da alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou."
Adélia Prado


Bem, acho que hoje estou mais para o "quando nasci veio um anjo" do Chico Buarque, na "Ópera do Malandro"....
"Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim..."
Chico Buarque
Como é que pode cada dia nascer dentro de vc uma pessoa tão diferente?

Pintura: "A guerra", de Adão Contreiras



sexta-feira, 15 de maio de 2009

Humano demais

Bem, ontem mandei essa letra do hino do Padre Fábio de Mello para uma pá de gente. Não poderia deixar de publicar aqui também. Se Deus está no centro da minha vida, não haveria como deixar de refletir acerca do Seu Amor, pois Deus é Amor. 
Mas, o Seu amor é assim, tão diferente do nosso amor, humano demais... Nós impomos muitos limites ao nosso amor humano. Clarice Lispector escreveu que  "...o amor é o fim de todas as ilusões, inclusive da ilusão do que é amor " (Clarice Lispector)
O amor de Deus não é assim... E esse amor é assim tão grande, incondicional e diferente do nosso que Ele foi capaz de escolher os mais fracos, geralmente aqueles que EU não gostaria de ter ao meu lado....
Não sou católica, mas acho que esse fato não é importante para esse propósito, pois o conteúdo da letra ultrapassa rótulos religiosos e chama ao diálogo o homem e Deus...

Humano Demais
"Eu fico tentando compreender 
O que nos Teus olhos pôde ver 
Aquela mulher na multidão 
Que já condenada acreditou que ainda havia o que fazer 
Que ainda restara algum valor 
E ao se prender em Teu olhar 
Por certo haveria de vencer 
E assim fizeste a vida 
Retornar aos olhos dela 
E quem antes condenava 
Se percebe pecador 
Teu amor desconcertante 
Força que conserta o mundo 
Eu confesso não saber compreender 
Sou humano demais pra compreender 
Humano demais pra entender 
Este jeito que escolheste de amar quem não merece 
Sou humano demais pra compreender 
Sou humano demais pra entender que aqueles que escolheste 
E tomaste pela mão geralmente eu não os quero do meu lado 
Eu fico surpreso ao ver-te assim 
Trocando os santos por Zaqueu 
E tantos doutores por Simão 
Alguns sacerdotes por Mateus 
E, mesmo na cruz, em meio à dor 
Um gesto revela quem Tu és 
Te tornas amigo do ladrão 
Só pra lhe roubar o coração 
E assim foste o contrário, 
O avesso do avesso 
E por mais que eu me esforce 
Não sei bem se Te conheço 
Tu enxergas o profundo 
Eu insisto em ver a margem 
Quando vês o coração Eu vejo a imagem"
 

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Recortes de esparsas idéias




É, de fato, esse caderninho é destinado aos momentos mais tristes da minha vida. A sina dele estava traçado desde que ele foi formado: serás destinado a receber as lágrimas e aos lamentos daquela moça gauche....
 Estava ali na varanda sentada ao sol, buscando um pouco do calor e da força que emanam dele. Não é à toa que as plantas não sobrevivem sem a luz do sol... Mas, eu estou tal qual uma planta, murchando e morrendo aos poucos, encerrada num vaso estreito e sentindo uma tristeza que poucas vezes senti na minha vida... Deus, como é difícil viver! Como é doloroso ser gente! Viver é muito perigoso, como diria Guimarães Rosa.... A seriedade dessas palavras me convence de tal forma que penso se não seria mais feliz ser um bichinho.. Já sei: um cãozinho, que tivesse um dono bem amoroso, que me alimentasse e me cercasse de cuidados... Um bichinho, sem a ciência e consciência de ser gente... Contradição engraçada.
 O grande problema da vida é que ter consciência e um pouco de vergonha na cara influenciam decisamente a energia vital. Nesse momento, meu ponteiro marca "zero" de E.V. Minha máquina não está reagindo... Deve ser por isso que tenho tanta vontade de morrer...
 Alguma coisa acontece no meu coração.... Mas não é porque cruzo o Ipiranga ou a Avenida São João.... É algo profundo que aconteceu lá dentro. Algo deve ter se quebrado, porque eu simplesmente deixei de ser quem eu era: aquela menina com força e coragem para perseguir seus sonhos...Hoje, o que faço é cultivar a inércia, a mornidão e a inatividade. Essa é minha atual morada; é o lugar onde habito e me escondo.
 Não ignoro que as pessoas possam mudar ao longo da vida. Ora, as pessoas cortam o cabelo ou deixam-no crescer; engordar ou emagrecem; embelezam-se ou enfeiam-se...Mas, na essência, em maior ou menor escala, as pessoas não mudam muito. O tímido, o retraído, o depressivo, o fanfarrão, o misantropo, o amigável não mudam grandes coisas em seu jeito de ser....
 
No meu caos, penso que minha essência realmente mudou. Não sou mais a mesma. Será que eu era assim e não tinha percebido? Como a gente tem de agir quando isso acontece?
 Antidepressivos? Fuga? Desintegração? Ainda não tentei a última opção....Qual é o caminho que leva ao seu reencontro com você mesmo?
 Fico a observar a moça pintada no quadro que acabei de adquirir, pendurado na cabeceira da minha cama. Ela está segurando ao seu violão, como quem agarrada ao seu amor, ao seu sonho, à sua vida... Mas, não vejo os seus olhos. Não vejo a porta de entrada da sua alma. Ao que ela vem? Será que está feliz com aqulo que carrega, ao destino ao qual se prendeu? É, talvez ela esteja firma, resoluta e muito segura de si. Mas, talvez sejam apenas suas frágeis e delicadas mãos que apenas seguram o representativo dos seus sonhos, pois seu coração já não está mais atado a ele. Onde está o brilho dos seus olhos?
 Já algumas vezes me disseram sobre o brilho dos meus olhos, sobre a profundidade do meu olhar. Alguém já me disse até que foi por isso que se apaixonou. Mas, hoje, não há mais brilho. A luz dos olhos meus se apagou; só restou o olhar fundo, longínguo, distante... Talvez porque não haja a paixão, firmeza e a decisão de outrora. Meu coração sangra pelo desencanto com o futuro traçado, marcado e friamente calculado, mas que não foi atingido. Onde está o brilho dos olhos meus?

Texto escrito em 26/03/2009
Pintura: Anna Maria Badaró

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Que prosa mais poética....


Quando leio esse trecho do livro "O Primo Basílio", de Eça de Queiróz, fico com a impressão de que prosa e poesia se fundiram e se uaniram da forma mais intensa, assim como as águas do Rio Negro e do Rio Solimões....

"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! 

Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela... Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranqüilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho" 


(Eça de Queiroz, O Primo Basílio)



 

domingo, 3 de maio de 2009

Desafabo de uma noite de domingo: vai todo mundo para Tonga da Mironga do Kabuletê...



Não tenho a pretensão de que o que eu escrevo seja lido e apreciado pelas pessoas. Se assim quisesse, estava vendendo minhas idéias e minha escrita ao sistema e, pelo menos, ganhando algum com isso. Mas, não!

Não estou aqui para agradar ninguém. Meu objetivo é, repiso: fazer desse blog uma espécie de ombro amigo, diário, nos quais possa desafogar minhas angústicas, minhas idéias palpitantes. Essa noite de domingo está propícia para um desabafo. A par de toda o desespero que uma noite de domingo traz - desespero de pensar que amanhã começa tudo de novo, num ciclo infindável - o que aqui viso expôr é o desespero de estar na frente do pc numa noite de domingo. Há momentos em que só o simples pensar nesse fato me dá pavor e arrepios....

Arrepios e pavor porque sei que, de alguma forma, quando não paro de entrar no orkut e checar emails, ingresso basicamente num mesmo ciclo infindável, mecânico, irracional que é o de começar a rotina semanal, igualzinho ao que mencionei acima. Mais que isso: vira quase uma obstinação, uma paranóia virtual.... A de ter novidades e informações a todo tempo, a de saber da vida de todos, etc.... É um tal de fuxicar perfil de um, ver fotos de outro, ler os scraps alheios. E o de pensar: O que eu estou fazendo aqui? Que bosta de vida é a minha, sem emoção? Olha só, tá todo mundo sorrindo, na balada, num mundo de festas e emoções sem fim!!!! Tá todo mundo vivendo e eu aqui, vegetando em vida em frente à tela do pc.... Que solidão do c* que chega a doer no peito!

No fundo, no fundo, todo mundo sente uma invejinha cutucando lá no fundo:
Fulaninha casou e está vivendo a mil maravilhas...
Essa lazarenta ..... tá com o ....
Fulano está fazendo um mochilão pela Europa....
Esse FDP do Ciclano entrou no Mestrado na blá-blá-blá University...
Essa figura odiosa do Bertrano que fez uma faculdadezina de merda lá no c* do Judas passou no concurso público dos meus sonhos!!!!!!!
Por que todo mundo tem que sorrir tão falsamente nas fotos, merda?
FDPssss.... Putos! Biltres! Mascarados! Irritantes!
Começo a entender o tipo de emoção que motivou Vinicius a escrever "Vai todo mundo para Tonga da Mironga do Kabuletê".....
Pior ainda eu me sinto por ter esse tipo de emoção dentro de mim....
E quem um dia disse que inveja mata estava é coberto de razão e disse a maior verdade do mundo.

É esse tipo de coisa que sinto e por isso, resolvi aqui desabafar, desafogar minhas emoções, porque afinal essa joça serve para isso mesmo. Uma espécie de terapia virtual... Que maravilha que a era da informação nos propiciou!

Por isso, juntar noite de domingo (=início do ciclo da rotina estafante) e estar na net (=início do ciclo da paranóia virtual) é de abrir um buraco na alma!

O julgamento moral que algum eventual internauta possa fazer da minha pessoa certamente não é dos melhores. Tanto pelo conteúdo, quanto pela forma, pois afinal, esse texto está cheio de expressões pouco educadas..... Que alma pequena e amarga, devem pensar!

É a mais pura verdade. É isso mesmo. Mas aí eu pergunto também: Em que nobre coração humano jamais subiu tão sorte de sentimentos? Apenas o do Mestre, enquanto aqui viveu na sua mais humana forma... Para os demais, eu digo: basta estar vivo para provar de qualquer emoção humana, como amor, paixão, desejo, inclusive a invejinha mortífera....

Eu sou parte da raça humana, até onde saiba (embora preferisse ser uma X-Men, Mutante, ET, etc) e não estou imune às emoções negativas....É isso aí. Essa é uma minha metade picasseana, não muito louvável, não muito bonita, que gostaria de não ter.

E qualquer outra opinião em contrário deve ser remetida à Tonga da Mironga do Kabuletê, com a devida vênia e educação.... Salve, Vinicius!


sexta-feira, 1 de maio de 2009

Metade (da verdade) segundo Drummond

A Verdade (Carlos Drummond de Andrade)

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho, sua ilusão, sua miopia.