quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Lágrimas da depressão

Chegou a mim esse bonito e esperançoso texto de Letícia Thompson. Não a conheço, mas tenho certeza que ninguém conseguiu exprimir tão bem em palavras essa chaga. A par de achar que a vida não é tão bela assim, espero um dia voltar a ter um pouco mais de otimismo e fé no amanhã...

"Por ser uma doença tão incompreendida é que muitos evitam falar. Quem não experimentou, não sabe o que significa não ter forças emocionais para abrir a janela para ver o sol.

O depressivo busca refúgio no isolamento, ele não se sente abandonado, abandona-se, desiste de si, de uma certa forma.

Há pessoas que choram seu destino, mas ao depressivo isso não acontece, pois se chora é porque não consegue ver destino, nem bom, nem ruim, apenas um vazio instalado a alguns metros dos seus olhos.

Falta vontade pra levantar, pra andar, pra sair, pra viver... a única vontade que sobra é a de dormir, pois esta não pede esforço, não exige ajuda e não obriga ninguém a enfrentar o dia.

Na depressão só as lágrimas são companheiras, pois vêem sozinhas e ficam juntas sem tentar consolar e sem fazer perguntas ou exigências. Elas ficam, simplesmente, presentes.

Que a vida é bela eu sei! Ela é bela para quem ri e para quem chora, para quem espera e para quem desespera. Ela é bela quando é noite, quando é dia, quando a chuva canta na janela e os ventos assobiam estranhas canções.

Mas a beleza da vida não é atrativo bastante para encher uma alma de querer, para injetar nela a vida e novas perspectivas. É preciso mais, muito mais que a luz do dia ou a suavidade de uma flor para dar a uma pessoa o desejo de se levantar e recomeçar o caminho.

É difícil buscar forças quando já utilizamos todas as reservas possíveis, mas é exatamente esse o momento de dirigir-nos a Deus, pois se nossas forças físicas parecem mortas, nosso pensamento está bem vivo.

E é quando abandonamos completamente nosso desejo ao desejo de Deus que nos tornamos mais fortes.

Que o depressivo não pense que chegou ao fim do caminho, ele apenas fez uma parada. Há ainda muita estrada pela frente, novas perspectivas e novos horizontes.

Quando Deus toma a direção das nossas vidas é que as janelas começam a se abrir, que nosso coração bate um pouco mais apressado e começamos a encontrar as soluções para o que antes parecia perdido.

Podemos atravessar a dolorosa estrada da depressão, mas chegaremos ao fim dela, pois se sozinhos nos sentimos, sós já não estamos.

A vida continua linda, continua bela. E se já não sabemos mais olhar, Deus nos ensina como abrir os olhos. "


Letícia Thompson

sábado, 26 de dezembro de 2009

Simplicidade




Quando eu era uma menininha, coisas da infância me preenchiam completamente. Doces, balinhas e bonecas eram componentes mágicos do meu mundo encantado.

Quando era moleca, ver meus desenhos preferidos, desenhar, ir à sorveteria faziam o meu dia. Era tão bom quando a vovó fazia uns bolinhas de chuva e todas aquelas outras guloseimas que eu gostava. E eu a tinha só para mim.

Na adolescência, qualquer reunião com as amigas, ida à patinação ou ao cinema, qualquer passeio na praça da cidade onde meus avós moram faziam minha cabeça.

A vida era simples, descomplicada e feliz.

E hoje? O que me satisfaz? Eis uma pergunta de resposta difícil. Um tanto restrita.

Não sou mais uma menininha., nem uma adolescente. Não me contento mais com docinhos, balinhas, brincadeiras, programas sociais.

Também não me satisfazem esses programas típicos de adultos: altas baladas, azaração, etc. Talvez um bar com uma boa bebida, com alguma música sirva de vez em quando para aliviar minha solidão e para me relaxar. E só.

Talvez as únicas coisas que me dêem um pouco de prazer são escrever, escutar música e cuidar do meu cachorro. Nem nos livros que eu tanto amava tenho achado as respostas que procuro.

Por que as coisas não podem ser mais simples?

Por que eu não sou descomplicada?

Onde está aquela que vivia com gosto essas coisas tão triviais?

Eu penso que se eu vivesse uma vida mais simples, baixando meu padrão de exigências e de criticidade, eu seria mais feliz e me sentiria menos excluída. Não sei onde eu perdi minha simplicidade. Certamente, ficou em algum lugar do meu passado. Nem no presente e nem no futuro está a simplicidade que eu tanto almejo. Infelizmente.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Vida seca


O calor faz secar as pastagens mais verdejantes.

O calor faz desidratar o corpo até o último gota.

Minha vida também está ressequida, despida de vida. Mas ao contrário dos corpos e das pastagens, não é pela presença marcante do calor. É pela ausência dele.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Minha Pasárgada




Será que sou realmente um Caim? Preciso ser sempre demonizada dessa forma?

Não, não preciso de mais julgamentos. Não preciso de ninguém mais apontando o dedo para mim. Não preciso que me digam o quanto eu peco, como peco e o que me leva ao pecado. Não preciso que me inflinjam mais medo, temor e outros sentimentos negativos. E sobretudo que me encarcerem ainda mais na culpa.

Estou cansada de tanta indireta e de gente tentando justificar seu comportamento num púlpito sob a legitimidade divina. Quem são vocês para falarem em nome de Deus?

Será que devo me sensibilizar com tudo isso? Eu sinto que algumas respostas não fazem mais a minha cabeça. Preciso de novas fórmulas e outros caminhos, se é que eles existem de fato.

Quero ir embora daqui. Quero ir para minha Pasárgada. Eu só quero esse lugar de refrigério para minha alma cansada, culpada, carregada de preocupações e frustrações. Um lugar verdejante, cheio de claridade do sol. Um lugar que sacie minha fome e minha sede.

Se alguém conhecer o caminho de Pasárgada, por favor, me avise.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Eu em Clarice

Eu sou o que o momento me permite ser. E quem eu mesma me permito.

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo".

I´m a multiple-faced girl.
"Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar".

É isso.
"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca".

Ah! Tem mais:
"E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar".

(Clarice Lispector)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Desalento




Um marasmo.

Uma apatia.

Um imensa sensação de vazio não preenchido. É como se meus sentimentos fizessem eco dentro de mim tamanho o vazio.

Uma incapacidade de enxergar as coisas todas de uma ótica mais positiva. Resultado de tanta amargura e insatisfação aglomeradas.

Uma solidão como nunca senti antes. Falta de pessoas nas quais realmente possa confiar. São escassas nesse mundo.

Um cansaço injustificado.

Um desencanto com situações, pessoas e instituições. A falta de fé em mim mesma e no meu futuro....

Quando a gente chega nessa estágio, só um milagre pode nos salvar.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Lei da vida é a espera




Será que estou condenada a viver na mesmice, olhando a vida alheia passar enquanto a minha está paralisada?

Eu estou sempre esperando... Esperando, esperando, esperando... Já disse isso outras vezes. Essa é a lei da minha vida.

Por que as coisas que eu espero simplesmente não acontecem? Será que é porque eu as desejo tanto que elas fogem de mim?


"Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando

Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol esperando o trem, esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval

E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando a festa, esperando a sorte
E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém

Pedro pedreiro tá esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo espere alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar, mas prá que sonhar se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás, quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho prá esperar também
Esperando a festa, esperando a sorte, esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim, nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem...
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem"

(Chico Buarque)

Gauche X Droit




Qual o sentido da vida?

Para o que eu vim ao mundo?

Ouço a resposta baixinho no meu ouvido: acho que nasci para ser gauche na vida. Parece que é para isso que tenho algum talento e disposição.

Vi uns índios num programa de TV. Tive vontade de me mandar para los cafundós para nunca mais voltar... Ao menos lá, não devem ter regras sem sentido e pressões injustificadas. Mas... A lua também serve como refúgio.

É, ser droit, além de muito trabalhoso, é sacal. E eu estou mesmo querendo é evitar a fadiga, como diria o carteiro de Tangamandápio.