quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O ciclo tarda, mas não falha...



Eu sabia que um dia o ciclo da vida viria cobrar essa fatura. E agora eu pago essa conta altíssima pelo meu atraso no viver a vida, no viver cada fase tal como tem de ser. Nesse processo todo, é inevitável ver correr o tempo....

Sabe, quando eu entrei na adolescência, queria ser muito madura, muito adiantada para meu tempo. Resultado: bitolei. Comecei a namorar muito cedo. Assumi um relacionamento que deveria ser apenas para experimentar, para ver como era, como algo sério e definitivo em minha vida. Pura pressão social. Hoje eu vejo isso.

Foram mais de 7 anos. Felizmente, eu acordei e vi que havia um corte abissal que separava nossos mundos. Não vou dizer que eu não aprendi nada. Mas foram anos e anos em relação aos quais posso afirmar que, no campo das emoções e relacionamentos, foram pouco produtivos. Estáticos. Mórbidos. Como se tivesse deixado de viver mesmo.

Isso se manifestou em todos os outros relacionamentos amorosos que eu tive. De maneira mais forte no relacionamento de quase 4 anos que tive. É como se eu quisesse ser uma AMÉLIA para esses poucos homens que "tive", a mulher perfeita, que faz tudo, entende de tudo, conversa de tudo, sara todas as feridas e oferece um ombro amigo sempre que necessário. Não sei se sempre eu consegui isso, mas, no fundo, era sempre o que estava no meu coração. Inconscientemente.

Mas, chegou um momento que não consegui levar adiante isso. Desmoronei. Pirei no nº3. E nunca mais achei meu rumo....

Junto disso vêm outras questões. P.ex. desde muito cedo, me senti compelida a fazer uma escolha de religião, de crença. Não é a crença em si que bota medo; é o jeito das pessoas a encararem que põe tudo a perder. E eu, mais uma vez, movida por essa "vibe", me senti na obrigação de ser modelo nessa seara, assumindo cargos de responsabilidade, querendo ajudar a mover as engrenagens desse sistema. Muitas vezes, até de maneira solitária.

Na questão intelectual, então, isso é ainda pior. Não adianta. Eu sou assim mesmo. Mas, quando eu estava no ginásio, eu me desapontava comigo mesma porque não havia tirado uma nota máxima. Uma vez, cheguei a ficar doente porque não me sentia preparada para enfrentar a prova e tirar 10. Quantas vezes eu chorei, me descabelei por essas questões. E as coisas vão tomando uma proporção maior à medida que você avança para o mundo adulto. Vocês podem imaginar como não foi meu período de vestibular, como não foi cada prova na faculdade, etc, etc. Claro que eu não podia me exigir o mesmo grau de perfeição dos tempos primários, porque se assim fosse, nem aqui eu estaria para fazer essa análise. O meu nível de exigência baixou um pouco, p.ex. não me sentia na obrigação de tirar a nota máxima, mas ainda assim, de ser uma das melhores alunas da sala.

Hoje, isso se repete. No mundo feroz dos concursos, eu esperava que iria passar logo. No meu primeiro concurso a sério, eu cheguei bem próximo disso. E não passei. EU NÃO PASSEI. Essas palavras têm um peso absurdo para mim... Muitos fracassos. Quase nada ou nada de sucesso nessa seara. E aqui estou hoje meio que parada, inutilizada, tentando achar meu papel no mundo.

Escutei minha mãe dizendo esses dias ao meu pai: "Que USP, que nada. De que isso adiantou?". De fato, de que isso adiantou? Lembram-se dos mais felizes e equilibrados na vida ou dos mais bitolados?

Outro dia também, ao telefone, ela disse para alguém mais ou menos isso: "Meu filho, em quem eu não punha muita fé, me saiu um homem de caráter, de fibra, maduro, etc. Já minha filha, em quem apostávamos todas as fichas....". Em outras palavras, a promessa do sucesso não se concretizou. Malogrou.

É engraçado isso. A garota que tinha certeza de tudo não tem mais certeza de nada. Eu evitei a dúvida e hoje ela me persegue. TENHO CULPA...


Por que é que eu quero demonstrar tanta perfeição para as pessoas?
Por que eu quero ser modelo de tudo?

Vejam vocês que eu tenho um problema com a perfeição: eu não sei administrá-la. No afã de persegui-la, eu não vivi várias coisas que deveria ter vivido; não passei por várias fases naturais...

Essa vontade de ser superior me afastou das pessoas. Tanto isso é verdade que eu não sei se tenho amigos de verdade. Tenho sim vários conhecidos, contatos, pessoas com as quais eu me divirto, dou risadas, troco algumas ideias. Nada mais do que isso. Eu não conheço o significado da palavra AMIGO, porque eu nunca tive quem fizesse esse papel para mim.

Acima de tudo, EU NÃO APRENDI A PERDER. EU NÃO APRENDI QUE A MORTE FAZ PARTE DO CICLO DA VIDA, ASSIM COMO OS FRACASSOS DO CICLO DO SUCESSO. E hoje, o fantasma do perfeccionismo vem me assolar.

De onde vem essa necessidade de querer parecer um prodígio? Um milagre da natureza?
O perfeccionismo fez explodir a minha panela de pressão interna. Explodi nos relacionamentos; explodi no intelecto; explodi na vida. E hoje eu estou aqui, juntando os caquinhos. E ao me reconstruir, aos poucos eu me desconstruo.... E vou me virando do avesso. E me tornando cada vez mais ASSIMÉTRICA.


Às favas com AMÉLIA.
Às favas com garotas prodígios. Pequenos Einsteins da vida.
Às favas com essa perseguição infindável do SUCESSO.

Perfeccionismo é coisa de menininha tocadora de piano, como dizia o grande Nelson Rodrigues. Às favas com o perfeccionismo!

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